POETAS DE PEDRA - TARCÍSIO PEREIRA

   Depois de um longo e tenebroso inverno, a exitosa coluna "Poetas de Pedra" está de volta para mais três edições. Para quem não conhece a estória dela, o produto estreou em 2020 aqui no blog e em sua primeira fase foram publicadas 18 edições. Para abrir mais uma página biográfica dos grandes poetas do Recife, contaremos a trajetória de um entusiasta da leitura na nossa cidade: Tarcísio Pereira.

   José Tarcísio Pereira nasceu em 11 de março de 1947, em Natal, no Rio Grande do Norte. Em 1961, por volta dos 14 anos, mudou-se com a família para o Recife. O contato com o universo dos livros aconteceu três anos depois, quando ele começou a trabalhar na Livraria Imperatriz. A vida de funcionário duraria pouco... Em 27 de julho de 1970, Tarcísio inaugurou a lendária livraria "Livro 7".

   Localizada no edifício 286 da Rua Sete de Setembro, no bairro da Boa Vista, região central do Recife, o estabelecimento marcou época na capital pernambucana. Virou ponto de encontro de estudantes e leitores de todas as classes sociais. Com o tempo, se tornou palco de movimentos estudantis e reunião de políticos (Em sua maioria, da esquerda), se tornando assim, um dos alvos de fiscalização dos militares em pleno Regime Militar. Por 30 anos, a icônica livraria recebeu grandes nomes da literatura local, como Gilberto Freire e Ariano Suassuna, nacional e mundial, incluindo a escritor de suspenses norte-americano Sidney Sheldon. 

    Tarcísio havia iniciado o negócio em um espaço de 20 metros quadrados e chegou a ter um estoque com mais de 60 mil exemplares. Com uma área de 1.200 m² abarrotada de publicações e frequentadores, a "Livro 7" recebeu o título de "maior livraria do Brasil" pelo Guinness Book, o livro dos recordes, na década de 1990. A fama do negócio o fez expandir sua atuação, abrindo filiais nos estados de Alagoas, Ceará e Paraíba. Tarcísio Pereira também foi agraciado com o "Mérito Cultural pela Divulgação da Literatura", honraria concedida pela Academia Brasileira de Letras. 

    Não durou muito e os tempos áureos se foram. Prejudicado pelo cenário econômico do Brasil, inadimplência dos clientes e a degradação do centro do Recife, a "Livro 7" fechou as portas em 2000. Mesmo longe do ofício de livreiro, Tarcísio continuou trabalhando com publicações através da editora "Livro Rápido", fundada em parceria com Belarmino Alcoforado. Anos mais tarde, lançou outro selo: Tarcísio Pereira Editor. Nos últimos anos de vida, atuou como editor e superintendente de marketing da Companhia Editora de Pernambuco, a CEPE.

   Mas engana-se quem acha que o nosso homenageado desta edição se destacou só no comércio de literatura. Em 1976, durante uma brincadeira de Carnaval com outros poetas pelas ruas do Recife, Tarcísio Pereira fundou a troça carnavalesca "Nós Sofre, Mas Nóis Goza". Desde então, o desfile do bloco acontece todos os anos no "Sábado de Zé Pereira". Tarcísio Pereira morreu aos 73 anos, no dia 25 de janeiro de 2021, vítima de complicações da Covid-19, no Hospital Português. O corpo foi cremado no cemitério Morada da Paz. Ele deixou a mulher, quatro filhos e cinco netos.

   A estátua de Tarcísio foi produzida pelo artista plástico Demétrio Albuquerque e instalada na rua onde fez história: Sete de Setembro. Agora vem a parte triste da estória... A obra exposta no local desde 2022 foi alvo de vandalismo (Como você pode ver nas imagens) e teve o rosto pintado com tinta verde. Outro detalhe: O local onde a estátua fica é de grande movimento e cercada por barracas de ambulantes (Impossível ser vista por quem trafega na região).  

Se você curtiu, a gente te convida a conferir as edições anteriores e conhecer os outros "Poetas de Pedra": João Cabral de Melo Neto (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/01/poetas-de-pedra-joao-cabral-de-melo-neto.html), Joaquim Cardozo (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/04/poetas-de-pedra-joaquim-cardozo.html), Capiba (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/02/poetas-de-pedra-capiba.html), Manuel Bandeira (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/05/poetas-de-pedra-manuel-bandeira.html), Ariano Suassuna (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/03/poetas-de-pedra-ariano-suassuna.html), Naná Vasconcelos (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/06/poetas-de-pedra-nana-vasconcelos.html), Chico Science (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/07/poetas-de-pedra-chico-science.html), Ascenso Ferreira (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/08/poetas-de-pedra-ascenso-ferreira.html), Antônio Maria (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/09/poetas-de-pedra-antonio-maria.html), Carlos Pena Filho (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/10/poetas-de-pedra-carlos-pena-filho.html), Solano Trindade (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/11/poetas-de-pedra-solano-trindade.html), Luiz Gonzaga (http://gnewsblog2.blogspot.com/2020/12/poetas-de-pedra-luiz-gonzaga.html), Liêdo Maranhão (http://gnewsblog2.blogspot.com/2021/01/poetas-de-pedra-liedo-maranhao.html), Clarice Lispector (http://gnewsblog2.blogspot.com/2021/02/poetas-de-pedra-clarisse-lispector.html), Reginaldo Rossi (http://gnewsblog2.blogspot.com/2021/03/poetas-de-pedra-reginaldo-rossi.html), Mauro Mota (http://gnewsblog2.blogspot.com/2021/04/poetas-de-pedra-mauro-mota.html), Celina de Holanda (http://gnewsblog2.blogspot.com/2021/05/poetas-de-pedra-celina-de-holanda.html) e Alberto da Cunha Melo (https://gnewsblog2.blogspot.com/2021/06/poetas-de-pedra-alberto-da-cunha-melo.html).

Fontes: Diário de Pernambuco, Companhia Editora de Pernambuco, Jornal da USP, Domingo com Poesia e Folha de Pernambuco.

Fotos: George Luiz / G News Blog   

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