...E aos poucos, a turminha está se encontrando
no céu. Primeiro Ramon Valdéz (Seu Madruga), depois, Angelines Fernandez (Dona
Clotilde), em seguida, Raul Padilla (Jaiminho), logo depois, Horácio Gomez Bolaños
(Godinez) e eis que chegou a vez do cabeça de toda esta história fantástica,
Roberto Gomez Bolaños. O homem que transcendeu seu objetivo inicial, de apenas
divertir (Era apenas isso que ele queria), e criou o maior fenômeno da
televisão latino-americana.
Se eu disser que perdi um parente íntimo,
não me condene, por favor, pois tenho meus motivos. Afinal, meus tios, avós,
primos não viveram dentro da minha casa e do meu quarto com tanta frequência
como ele nos últimos 25 anos. A minha lembrança mais remota a frente da tevê já
tinha a imagem do garotinho de gorro com orelhas de cachorro e do herói
vermelho de antenas. Eu sabia que ia sentir, mas não que seria com tanta
intensidade.
Houve quem condenasse a repercussão, mas,
ora, o que é unanimidade neste mundo? Nem Deus é? Achei que era exagero meu,
mas, navegando pelas redes sociais, percebi que não era o único. Procurei me
consolar em um grupo segmentado do Facebook e verifiquei que todos estavam tão
arrasados quanto eu. Apesar de Chespirito ter encerrado as gravações há quase
20 anos, saber que ele estava vivo, ainda que nas condições em que estava, representava
uma possibilidade de, quem sabe, um retorno aos scripts (Meio utópico, mas era
esperança). Com a partida, tudo se encerrou.
Seu rosto era familiar, seus figurinos
remetiam minha infância e até suas palhaçadas eram reproduzidas por mim na
escola, por exemplo. Com o passar dos anos, a admiração aumentou à medida que
eu percebia que, mesmo vendo um episódio “trocentas vezes”, a graça e o encanto
permaneciam intactos. As portas dos meus 30 anos, constatei que não havia mais
como fugir e decidi: Chespirito vai comigo até o fim.
Até a popularização dos vídeos na internet, eu
assistia os episódios dublados do SBT. Fiquei encantado ao conferir o primeiro
episódio na versão original. Ouvir os ruídos originais, os passos, as batidas
das portas me transportava ao ambiente real de uma certa vila onde, de um jeito
diferente, passei minha vida inteira. A magia pegou de tal forma que esqueci
eternamente que adultos interpretavam crianças. Mais que isso, apesar das
marcas de um senhor de 85 anos que Bolaños carregava, continuei a lhe ver como
o guri esfomeado e o herói atrapalhado.
Enfim,
tudo está consumado: Ele se foi. Consegui passar pelo momento de tristeza e
comoção, que atingiu todos os fãs nos mais de 100 países onde os programas
foram exibidos, e me encontro naquele estágio em que quero celebrar sua vida e
perpetuar sua obra. Que meus filhos, sobrinhos e netos tenham a chance de
conhecer seus personagens, os adotem e aprendam seus ótimos ensinamentos. Do
que depender de mim, todos terão muito material para “estudar” o universo
fabuloso de Roberto Gomez Bolaños.
Comentários
Postar um comentário