BATE PAPO : AROLDO COSTA


   Ele faz parte da equipe esportiva da Rádio Jornal, conhecida, popularmente, como “Escrete de Ouro”. Nascido em Garanhuns, tem 34 anos, 18 deles dedicados ao rádio. Atualmente, tem diversificado seu foco profissional, comandando o programa de variedades “Supermanhã” aos sábados e, de vez em quando, durante a semana, na Rádio Jornal do Commercio AM, onde está há 12 anos. Com sua voz inconfundível, ele está entre os principais locutores esportivos do estado.


   A conversa aconteceu na Faculdade Joaquim Nabuco, no centro do Recife, no dia 26 de agosto e contou com a participação dos alunos do sétimo período de Jornalismo. Confira, a seguir, tudo que rolou nesse bate papo. Com vocês, AROLDO COSTA.

INÍCIO NA PROFISSÃO


AC: Eu comecei a trabalhar no rádio quando tinha 16 anos e naquela época não tinha de curso de qualificação de radialista. Bastava você ter uma boa voz, ser curioso e ter vontade. Fazia um teste, eles te davam um texto lá e você ficava lá falando e aí disseram que eu levava jeito. Foi assim que eu comecei no rádio.

AC: Aí, o tempo foi passando, pra Garanhuns, onde comecei, estava bom. Quando fui para Caruaru, já senti uma exigência maior. Porque o rádio em Caruaru já é pensado para a capital, tem um lado mais informativo. Não que Garanhuns não tenha notícia, lá tem, mas, é diferente. Em Caruaru a concorrência é maior, você tem redações mais montadas. Quando eu vim para Recife, aí cheguei à conclusão que tinha de fazer jornalismo. Por uma questão de qualificação.

O CURSO DE JORNALISMO

AC: Me lembro quando eu comecei a estudar jornalismo, as pessoas diziam: “Oxe, o que tu ta fazendo aqui?”. Por que eu já vinha do rádio, já tinha certo nome e essa etapa (dos estudos) eu pulei, eu não fiz. Um professor foi ensinar a usar o gravador, ele olhava pra mim e dizia: “É brincadeira, ensinar o aluno a usar o gravador” e eu dizia: “Não professor, fique à vontade, que eu vou fazer o que tem que ser feito”. Gostei realmente de ir pra graduação, ser jornalista.

AC: No final do curso, fiquei surpreso. A católica (UNICAP) me chamou, aí eu pensei: ”Que será, será que eu to devendo?” Quando cheguei lá me disseram que eu tinha sido o aluno “laureado” da turma. Aí pensei: “Com tanta gente que tinha mais tempo pra estudar, e eu trabalhando, estudando ao mesmo tempo”, ainda consegui fazer um bom curso. Eu acho assim, tudo é dedicação. Me dediquei ao curso de jornalismo, muito e hoje... Você só atinge esse patamar profissional, sendo respeitado, quando você faz com dedicação. Por que, mesmo com mais de 10 anos de rádio, fiz a graduação como deve ser feito.

A IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO PARA O JORNALISTA

AC: A pessoa não pode ter preconceito. Por exemplo: Me lembro de uma menina que estudava comigo e ela encontrava os homens da classe, estavam comentando sobre futebol. Ela dizia: “Já estão falando de futebol, não sei como esses homens aguentam, é futebol o tempo todo” aí eu dizia: “Vamos para com esse assunto que ela não gosta não”. Um dia desses, eu estava no estádio dos Aflitos, transmitindo um jogo, aí eu vi uma figura lá no campo com o microfone de uma grande emissora na mão, quem era? A menina. Então perguntei: “O que você ta fazendo aqui?”, ela falou que tinha conseguido estágio e a primeira matéria que a colocaram pra fazer foi sobre o jogo do Náutico. Quer dizer, em um instante teve de aprender tudo sobre o assunto, ou seja, tem de saber de tudo.

AC: Aconteceu comigo também. Na faculdade os professores perguntavam quem lia jornal, aí alguns levantavam, outros não. Então perguntavam qual caderno não gostava, eu disse: “Eu não leio muito o de economia”. Aí ele disse: “Pois pode ler o caderno de economia amigo, fique à vontade”. Então eu perguntei por que e ele me respondeu que um dia eu iria precisar fazer matéria de economia e ia fazer falta. Bastou eu ganhar uma oportunidade na produção do “Supermanhã”, quando Geraldo (Freire) não está, quem faz o programa sou eu, tive que entrevistar o senador Armando Monteiro Neto, Pedro Eugênio, Deputado Federal e economista e Jorge Jatobá, ex-secretário da fazenda. O assunto era a Crise econômica no mundo, Na hora eu lembrei: “Se eu não lesse o caderno de economia”. Então não pode ter preconceito. É um conselho que dou.

AC: O cara pode ter uma imagem ligada ao esporte, mas, ele pode ter certeza que se der uma cheia no Recife, pode ser escalado para cobrir e aí vai ter que falar sobre a chuva, conversar com o prefeito, quer dizer, se o cara não ta informado, vai ficar completamente perdido.

MERCADO DE TRABALHO NO JORNALISMO

AC: Eu acho que no campo da comunicação, sempre tem uma expectativa positiva. Eu estava fazendo uma conta lá em casa e cheguei à seguinte conclusão: Em 2013, tem a “Copa das Confederações” e Pernambuco quer participar, em 2014 tem a “Copa do Mundo”, 2015 a “Copa América” no Brasil e 2016 têm as Olimpíadas no Brasil. Então, você tem uma sequência de grandes eventos esportivos. Isso, por si só, já cria uma expectativa positiva.

AC: Você tem que saber o que quer, pra onde você vai, o que você pensa e o que deseja fazer. Hoje, por exemplo, na redação da Rádio Jornal tem uma volatilidade muito grande. Tem gente que passa e você não ouve falar mais. Ou o rádio não tava no sangue, ou o próprio jornalismo, a notícia não estava. Depois você sabe que ta numa assessoria.

AC: Tinha uma menina lá na rádio, com uma voz bonita, tinha um ritmo legal, de repente, ela não está mais no rádio. Porque, como ela é uma espécie de multimídia que vai girando, então ela ta na televisão, vai pro rádio, vai pra internet. Isso acontece. Tem que saber, exatamente, o que você quer.

AS DIFERENÇAS ENTRE TEVÊ E RÁDIO

AC: Na TV, você precisa muito de imagem. A não ser que se faça um programa de entrevistas, como o “Roda Viva”, onde você coloca uma câmera no centro e faz as perguntas.

USO DE CÂMERAS NO ESTÚDIO DE RÁDIO PARA TRANSMISSÃO VIA WEB

AC: A (rádio) Jovem Pan tem um site e ela coloca todos os jornalistas para gravar pra internet. Ela ta fazendo qualquer coisa, menos rádio. O Professor Marcos Araújo também acha que isso tem certo limite. Há uma discussão muito grande, eu acho um pouco complicado.

AC: Na rádio Clube tem um programa que eles já estão fazendo assim, é um programa de esportes. Eu acho essa ideia boa, pois tem uma interatividade maior. Agora, por exemplo: Um jornal, como o “Redator de Plantão”, na internet deve ser uma coisa muito chata né? Um cara com a cabeça baixa lendo as notícias, não teria sentido. Agora, um debate esportivo não, porque você está ali discutindo, trocando uma ideia. O jornal falado, cheio de notícias, onde você vai ficar atento à leitura, não é uma coisa inteligente. Você não vai ficar olhando para a câmera. Vai ficar olhando o papel, raciocinar, vai falar com o operador, então há essa discussão. Eu acho que cabe em alguns momentos e em outros não.

CÂMERA DE TV, NUMA TRANSMISSÃO DE RÁDIO, ATRAPALHA O NARRADOR?

AC: Na televisão você tem intervalo, tem que se preparar para entrar no ar. Precisa de maquiagem, tem que estar bem arrumadinho. Eu acho que tem de ter muito cuidado com isso, Se você colocar uma câmera (na transmissão de rádio), pode perder a essência. Por exemplo: tem um locutor em São Paulo chamado José Silvério, que trabalhou na Rádio Bandeirantes e Jovem Pan e que, vibra com o jogo. Ele ficou muito conhecido, em São Paulo, como o cara que chutava o comentarista. Então, como você vai colocar uma câmera (Pra mostrar isso).

A COMPETIÇÃO PELA INSTANTANEIDADE ENTRE RÁDIO E INTERNET

AC: Tem a história de um incêndio, onde uma rádio mandou um radialista, um cara que já estava acostumado e mandou uma menina que gostava de fazer um textinho. Então, quando chegou lá, o cara começou a descrever o que estava vendo direto, já a menina, quando terminou de escrever, o incêndio já tinha terminado, ou seja, a menina se preocupou em fazer o texto e se atrapalhou porque o rádio é mais ligeiro. Você tem que chegar lá e falar, usar o teu poder de interpretar aquilo ali. Então não é só o texto, é a improvisação.

O NECESSÁRIO PARA O SUCESSO NA PROFISSÃO

AC: Eu acho que a história ainda é sua e a produção ainda é o talento de cada um. As pessoas ouvem porque gostam de quem apresenta. Porque tocar música, toda rádio toca, mas, as pessoas se identificam pela voz, pelo talento e pelo trabalho que ela faz, enfim, a simpatia que ela passa no ar. A mesma coisa acontece com a notícia. Assim seria fácil, você contrataria um monte de gente, ficando na redação só na internet, em site de busca. Cadê a emoção disso? O talento? Quem passa isso é o apresentador e a sensibilidade do produtor. Se você não tem um produtor que tenha sensibilidade, pra saber o que se encaixa naquele momento, fica frio, sem graça. As pessoas ainda vão atrás do meio, porque tem pessoas que ainda transmitem credibilidade.

AC: Por exemplo, você pega uma notícia, como um furacão, coloca só uma imagem e digita lá nos caracteres: “Chegou o furacão”. E cadê o cara? Cadê o jornalista para dizer, explicar o que acontece, o correspondente que ta lá e descreve o que acontece, ou seja, nada vai substituir. A internet é uma parceira. O site de busca é bom, precisou de uma informação, ele ta ali pra ajudar, mas você é quem vai passar.

A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO

AC: Muita gente determinava o fim do rádio musical. Achavam que com o Mp3, onde as pessoas podem ouvir a música quantas vezes quiserem, a possibilidade de baixar na internet. Já ficou provado que não. As pessoas gostam de escutar a rádio, ouvir hora certa. Muitos profissionais antigos falavam e nós temos que respeitar. Outro exemplo, a televisão hoje ta no celular, mas as pessoas não se apaixonam pela televisão no celular. As pessoas ainda querem ver a televisão mesmo. Você pode até ficar ali, 5, 10 minutos, mas depois você guarda. Então, nada substitui essa capacidade de contar tua história, imprimir sua marca naquilo que ta fazendo. A internet é ótima, parceira.

AC: Tinha uma menina na redação que a matéria dela vinha do site de busca. Nós começavamos a comparar, daqui a pouco, três, quatro, cinco linhas do que o cara deixou no site de busca. Não vai ficar muito tempo. Porque quando for exigido o talento dela, a história dela, mesmo que não seja improvisado, mas, que ela veja a história aqui, escreva a matéria, e não tenha a capacidade de fazer isso, ela vai ser simplesmente substituída por quem tem talento. É isso que conta no final.

REDES SOCIAIS COMO FONTES DE INFORMAÇÃO

AC: É mais trabalho né (acompanhar notícias em redes sociais), os blogs são leitura obrigatória. Exemplo: Teve um atleta que se demitiu do Flamengo e não falou para ninguém, nem pra família dele, mas, falou no Twitter. E aí, você não leu Twitter, não sabe o que é, dançou, perdeu a notícia.

O APRESENTADOR COMO MEDIDOR DE QUALIDADE

AC: Agente tem um quadro no programa, chamado “Quem tem Razão?”. Pega um assunto, faz uma polêmica e coloca um ouvinte para falar. Se não tiver o molho do apresentador e dos debatedores, não tem graça. Um tema polêmico que discutimos, recentemente, era sobre se novela era programa pra ser assistido por toda família, as pessoas relembraram novelas que assistiram quando eram crianças. Então, se você tem essa capacidade de segurar as pessoas, elas gostam de você. No final o que conta é sua sensibilidade.

G NEWS: Nesse debate sobre novela, durante uma enquete, um ouvinte falou que quem assiste novela é “Viado”. No momento em que falou, o áudio foi cortado. Isso foi proposital?

AC: Foi intencional. Porque é o nível do debate que nós queremos e isso quem determina é o apresentador. Se você deixar um falar uma coisinha, outro falar outra coisinha, daqui a pouco, perde o controle. Então, tem que saber direcionar. Alguém pergunta: “Porque cortou o ouvinte?”, Há um motivo, ninguém corta por cortar. Um dia desses, num debate sobre a cidade, um cara entrou no ar e disse: “Rapaz, esse prefeito da cidade é uma piada, todo mundo conhece João da Bos...”, Esse não é o tipo de debate que agente quer. Nós não vamos ganhar nada, nem o ouvinte. Isso é agressão gratuita. A responsabilidade é toda sua.

TRANSMISSÃO DE FUTEBOL VIA “OFF TUBE”

Edgar Pedro: Quando vocês narram uma partida de futebol ou vocês fazem comentário. Existe a possibilidade de se fazer isso vendo o jogo na TV?
AC: A transmissão Off Tube é uma prática antiga. Por exemplo, um dia desses, eu tava assistindo uma transmissão de Luiz Carlos Júnior, do Sportv, e ele disse: “A mesma imagem que você tem em casa é a mesma que tenho”, que loucura né? Então, o cara não vai transmitir serro portenho, do Paraguai e Independiente e vai mandar uma equipe pra lá. O cara tem que saber fazer. Mas, o que dá credibilidade? É que o cara tá tão acostumado a fazer isso que faz normalmente. A Rádio Jornal, a Globo, todo mundo faz e fica legal. Se colocar um cara que não sabe fazer, vai estragar, vai se perder completamente.

Maciel Júnior também participou da conversa com os estudantes


PRÓXIMA SEMANA: A ENTREVISTA COM MACIEL JÚNIOR
Perguntas de:
Edgar Pedro
Jackslene Silva
Larissa Souza
George Luiz
Anne Karolyne
Izabelita Guerra

Fotos: Ericka Moreira

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