ELEIÇÕES 2010- ENTREVISTA ZÉ DA RIMA

Arlindo Batista de Lima, o popular Zé da Rima, nasceu em 1961 na cidade de Itaguape, no Paraná. Começou a trabalhar aos sete anos na roça, depois se mudou para o Recife onde se casou e teve oito filhos. Trabalhou fazendo festas de aniversário, catando papel e vendendo macaxeira, nesta última função, recebeu o apelido de Zé da Rima, já que usava frases rimadas para dar um tom diferente e cômico na comercialização do produto e assim, vender um pouco mais. Atualmente, vive na comunidade conhecida como Vietnã, que fica em San Martin, Zona oeste do Recife. Arlindo é um dos 464 candidatos que concorrem as 49 vagas na Assembleia Legislativa no próximo dia três de outubro.

Com pouco dinheiro para investir na campanha e uma imaginação capaz de driblar os problemas financeiros, Zé da Rima foi à luta. Adaptou uma pequena carroça e a transformou num palanque. Diariamente, por volta das oito horas da manhã, o candidato se desloca para a divisa das pistas da BR 101, próxima do Ceasa, lá permanecendo até as onze da manhã acenando para os motoristas que, curiosos, brincam e até apóiam o simpático senhor vestido de terno e gravata. Uma jornada cansativa que vai até as seis da tarde, quando Arlindo pega sua carroça e, andando, segue para a Avenida Abdias de Carvalho onde fica até as oito da noite. Uma luta que é perceptível pelo tom da pele, escurecida pelo sol da manhã e tarde.

Enquanto acena para as pessoas, Zé da Rima conta sua história, bebe um pouco da água da pequena garrafa que mantém durante todo o dia e tenta se equilibrar na frágil estrutura que, ao mínimo movimento, estremece como se fosse virar. Ainda assim, o candidato não se abate e luta pelo que acredita. Um país mais democrático.

COMO O SENHOR ANALISA O CENÁRIO POLÍTICO BRASILEIRO ATUAL?

Precisa mudar. Precisa ter mais seriedade, mais compromisso com o povo. Boa parte de quem está lá não sabe o que é morar num barraco de madeira, nem andar na lama ou em ônibus lotado. Não conhece o sofrimento. Eles devem atender as pessoas.

QUANDO E COMO FOI SEU PRIMEIRO CONTATO COM A POLÍTICA?

Em 2008, Fui convidado pelo deputado federal Mendonça e pelo partido Democrata para me candidatar a vereador. A partir daí comecei a ter interesse de trabalhar com o povo que sofre dificuldade. O Brasil não é democrático, se fosse, seria direito.

PORQUE O SENHOR DECIDIU SE CANDIDATAR?

Primeiro pelo sofrimento. Quando fiz meu barraco e passei a viver sem pagar aluguel, pensei em quem não tinha essa chance. Pensei no jovem sem emprego. Gastam dinheiro com muita coisa sem necessidade e esquecem o povo.

CONSIDERANDO QUE, EM GERAL, OS POLÍTICOS BRASILEIROS SÃO VISTOS DE FORMA NEGATIVA PELAS PESSOAS, COMO A SUA FAMÍLIA ACEITOU A SUA DECISÃO DE SE CANDIDATAR?

Eles não criticam, mas não acreditam na minha vitória por causa dos candidatos que tem mais dinheiro. Eu sinto que tenho a força das pessoas que me apóiam, que me filmam e colocam os vídeos na internet, isso aumenta os votos. Eu sinto que serei bem votado, mesmo sem ganhar.

QUE MOTIVO LEVOU O SENHOR A SE FILIAR AO PARTIDO DEMOCRATA?

Na época, o governador era Mendonça(Filho), ele fez um projeto educacional no Ceasa, dois dos meus filhos o fizeram e já saíram empregados. Fui me filiar e logo depois fui convidado a sair candidato a vereador, na época tive 185 votos.

COMO O SENHOR TEM SE PREPARADO PARA ASSUMIR O CARGO DE DEPUTADO ESTADUAL, CASO SEJA ELEITO?

Já sou preparado na faculdade da vida. Como vivo na lama, preciso melhorar o saneamento e as dificuldades na saúde. Leio muito o livro da Constituição de 88 que tenho há quinze anos.

COM RELAÇÃO AOS CUSTOS DE CAMPANHA, NA SUA VISÃO, EXISTE UM TRATAMENTO DIFERENCIADO DO PARTIDO COM SEUS CANDIDATOS?

Evidente que sim. Meu partido tem vinte e oito candidatos, quem não tem condição depende do partido, mas a verba não é dividida de forma igual. Um candidato bem votado em outras eleições tem mais dinheiro e ganha até carro de som, no meu caso, o partido me deu uma bicicleta, como eu tinha um som juntei os dois e eu mesmo faço a divulgação por que não tenho como pagar alguém.

QUAIS AS DIFICULDADES QUE O SENHOR TEM ENFRENTADO DURANTE A CAMPANHA ELEITORAL?

Dinheiro para me locomover. Esse ano não fiz jingle e, muitas vezes, não tem como ir para as reuniões do partido. Material de campanha é todo feito por mim com objetos que pego no lixo, não tenho condições de pagar pessoas para trabalhar, desde o ínicio da campanha que estou afastado do trabalho no Ceasa e deve seguir assim até três de outubro.

ATUALMENTE, A FRASE “EU PROMETO” NÃO CONVENCE MAIS OS ELEITORES, QUE ESTRATÉGIAS O SENHOR USA PARA CONSEGUIR VOTOS?

A popularidade. Construí um palanque com a carroça que uso para vender macaxeira e fico na BR 101 durante a manhã acenando para as pessoas, muitos tiram sarro, outros mandam sinal positivo, sinto que isso me ajuda um pouco. Durante a noite, sigo com a carroça para a Avenida Abdias de Carvalho e fico até as oito horas da noite.

COMO O SENHOR VÊ, ENQUANTO FILIADO DE UM PARTIDO POLÍTICO, A DIFERENÇA QUE EXISTE NO TEMPO DESTINADO A CADA PARTIDO NO HORÁRIO GRATUITO ELEITORAL? ACREDITA QUE ISSO PREJUDICA ALGUNS CANDIDATOS?

Prejudica. Sou privilegiado, meu partido tem quinze segundos, tem alguns que tem menos. Tem gente que entra mudo e sai calado.

QUAL SERÁ SEU PRIMEIRO PROJETO, CASO SE TORNE DEPUTADO ESTADUAL?

Primeiro cuidar das favelas. Tirar o tempo ocioso do jovem que precisa de espaço para lazer. Diversificar a escola com futebol, vôlei, basquete. Jovem que não tem o que fazer acaba indo parar nas drogas.

POR QUE AS PESSOAS DEVEM VOTAR NO ZÉ DA RIMA?

Porque é um homem que passou pela faculdade da vida, aquela que começa aos sete anos na roça, estuda só o primário e não tem formação. Aquele que assa uma sardinha para alimentar oito filhos, que dormiu no papelão e sabe do sofrimento dos outros.

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