
Lá se foram quase nove anos e, muitos
personagens gays depois, eis que surge a oportunidade de ouro da emissora carioca.
No meio disso, outra tevê abriu o caminho. Em 12 de maio de 2011, o SBT levou ao ar uma cena
de beijo (bem mais caprichada) entre as atrizes Giselle Tigre e Luciana
Vendraminni, na novela “Amor e Revelação”, do autor Tiago Santiago. Neste caso,
me paira uma dúvida: A questão é o beijo em si? Quem dá (homem ou mulher) ou
quem exibe? Na época, pouco se falou sobre a iniciativa inovadora do SBT,
talvez pelo fato da trama ter patinado na audiência (dava entre 5 e 7 pontos). As duas vezes anteriores foram na novela "Mãe de Santo", da extinta Rede Manchete em 1990, envolvendo dois homens, e no Teleteatro "Calúnias", de 1963, entre duas mulheres, na pioneira TV Tupi de São Paulo.
“Amor à Vida” não foi a melhor trama dos
últimos anos da emissora dos Marinho, contudo, trouxe uma abordagem diferente
sobre a vivência de um casal homossexual, mostrando que como todas as pessoas
da sociedade, trabalham, se desenvolvem intelectualmente, conseguem boas
colocações no mercado e são capazes de construir uma relação sólida e
harmônica. Ao contrário do ocorrido em 1998, quando o casal lésbico
interpretado pelas atrizes Christiane Torloni e Silvia Pfeifer, na novela “Torre
de Babel”, foi retirado da trama por rejeição do público, o casal formado pelos
personagens Niko (Thiago Fragoso) e Félix (Mateus Solano) caiu nas graças dos
telespectadores, com direito a torcida por um final feliz e, por fim, pelo tão
esperado beijo gay nas novelas da Globo.

Após esta longa introdução (nem dava pra ser
menos), inicio meus argumentos. Sob o comando do jornalista Carlos Henrique Schroder,
a Globo passou a inovar mais, saindo da zona de conforto e rigidez que sempre a
marcou. A emissora ficou mais humanizada e se adequou a nova sociedade, mostrando-se
mais tolerante com a homossexualidade que há uma década.
É evidente que temos que respeitar os que
não concordam. Por trás da aversão estão os dogmas religiosos, falta de
conhecimento e de uma reflexão que nos abra a mente para esta realidade. O
beijo não foi colocado ali gratuitamente, houve um sentimento verdadeiro que
amadureceu ao longo dos capítulos (o beijo apenas selou), contudo, adjetivar a
cena com termos como “nojeira”, “safadeza” e “promiscuidade” é tão
desrespeitoso quanto um grupo gay que se beija no meio de um evento religioso.
É necessário que haja este respeito mútuo entre as partes para uma harmonia
(cada um no seu quadrado). Não quer ver, basta desligar a tv ou não acompanhar
a novela, mas o que acontece em nosso país é o falso moralismo. Todo mundo
condena, mas está toda noite em frente a tv.
Em outros países, o beijo gay já acontece
com certa frequência e já se tornou comum, por aqui, os personagens homossexuais
já se fazem presentes na mesma proporção, em alguns casos, até com boa
recepção. As portas se abriram e a sociedade precisa discutir. A
homossexualidade sempre existiu e está na hora das famílias incluírem este tema
nas conversas com os filhos, não dá pra fechar os olhos para isto. Também
precisam parar de acreditar que uma pessoa irá “virar a casaca” apenas por que
viu uma cena na tv. A ideia de que alguém vai “mudar de time” apenas porque viu
dois homens ou duas mulheres na novela só demonstra o quanto somos manipuláveis
e ignorantes.
No mais, que este episódio nos sirva como
aprendizado. O Brasil tem problemas infinitamente mais sérios para resolver
(corrupção, violência, pobreza, etc.) e é doloroso ver políticos bradando
contra uma novela quando poderiam estar preocupados em melhorar as condições de
vida da sua população. É muito papo furado contra uma demonstração tão singela
de amor. Se fosse de violência, ninguém falaria nada. De fato, estamos ficando
selvagens!!!
Fotos:
Montagem / G News Blog
Vídeos: Extraídos do “YouTube”
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