CONCURSEIRO: O CUSTO DE SER UM


Prestar concurso público exige observação tanto no programa de estudo, quanto no custo. Buscar a modalidade mais em conta é essencial para quem não quer comprometer orçamento.


Estabilidade. Essa é a primeira palavra mencionada quando perguntamos: Por que você faz concurso público? Foi esse o motivo principal que fez Naílson Nascimento, atualmente com 28 anos, entrar para o grupo denominado “concurseiro”. Tudo começou em 2003, quando o jovem, então com 21 anos, se inscreveu para o concurso da Polícia Militar de Pernambuco. A partir dessa tentativa, outras viriam na busca incessante pelo tão sonhado emprego público. A rotina era puxada: Naílson acordava por volta das 5h, tomava o café e se deslocava de sua residência em Cavaleiro, Jaboatão dos Guararapes até Casa Forte, no Recife, onde fica a banca de revista onde trabalhava. Às 15h retornava para casa e, em seguida, novamente se deslocava, desta vez, para o cursinho localizado no centro de Jaboatão.

As aulas aconteciam de 19h às 22h, cinco dias por semana. Vez ou outra, aulas extras eram abertas no sábado e domingo. Neste primeiro concurso prestado, Naílson conseguiu ficar entre os candidatos na reserva, à espera de uma vaga, que não veio. O garoto não desistiu, outros quinze concursos vieram pela frente. Em determinado momento, Nascimento chegou a estudar, ao mesmo tempo, para três concursos diferentes. Horas de lazer e festas foram, sumariamente, trocados pelos estudos em casa, em salas de aula e qualquer lugar onde fosse possível abrir os materiais cedidos pelo cursinho ou comprados em bancas de revista. Depois de tantos concursos, a realização do objetivo veio em 2008: Naílson passou no concurso para agente dos correios. Logo em seguida, deixou o trabalho na banca de revistas e se tornou funcionário público. Assim como a história contada acima, outros milhares de jovens, e nem tão jovens assim, investem pesado para conquistar altos salários e empregos estáveis. Porém, existem meios, mais ou menos econômicos e vantajosos, para os diversos tipos de classe financeira. Afinal, é mais fácil estudar em cursinhos, ter aulas particulares ou estudar por conta própria? É o que vamos ver nas próximas linhas.

São 19h, estamos num dos mais conhecidos cursinhos do bairro do Ipsep, zona sul do Recife. A sala está lotada, são cerca de cem alunos tendo aula ao mesmo tempo, seguindo programas dos mais diferentes concursos. Na verdade, não existe um estudo focado em um específico, tudo é visto e revisto por professores de Matemática e Português, as matérias constantes nas provas. É possível observar que dezenas de alunos vêm de seus trabalhos, alguns ficam atentos, outros comem e alguns chegam a lutar contra o sono para conseguir assimilar o assunto dado.

O custo de um preparatório pode variar conforme a tradição da instituição. Foi feita uma pesquisa de comparação entre três cursinhos, dois tradicionais e um que está entrando no mercado, tomando como base o concurso para a Polícia Civil de Pernambuco, que será aberto nos próximos dias. O curso, nas três instituições visitadas, tem três meses de duração. As turmas têm um número máximo de 40 alunos. Todos oferecem material didático contido no valor. A Líder Cursos, que funciona há cerca de dois anos na Avenida Guararapes, oferece um pacote com os concursos para Polícia Civil, INSS e Polícia Federal ao preço de R$ 300, pago à vista ou divido em até seis vezes. O curso Mauhel oferece, apenas, o curso de Polícia Civil no valor de R$ 300, podendo ser pago no cartão ou em cheque. Já o CSS Cursos oferece o mesmo preparatório ao valor de R$ 250. A semelhança do público que investe nesse mercado é confirmada pelos três responsáveis pelas entidades visitadas.

Geralmente funcionam no horário da manhã e noite, sendo o noturno, o horário mais disputado. Segundo Elias Ivanildo, responsável pelo curso Mauhel, chegam a serem formadas várias turmas para um mesmo curso. “À procura se torna maior quando o edital é publicado”, ressalta. Em geral, o perfil do horário noturno é sempre o mesmo. Em sua maioria, são pessoas que estão cansadas depois de um dia de trabalho e buscam a possibilidade de uma vida melhor. “Costumamos chamar de pessoas de “responsa”, os que trabalham o dia inteiro e, por isso, muitas vezes na hora da aula não conseguem render” diz Álvaro Mota, responsável pelo CSS cursos. A diferença desse método de ensino é que, apesar do custo alto, somando o valor do curso ao valor de locomoção, os cursinhos ensinam todo o programa do concurso e ainda se tem a presença do professor para tirar as dúvidas que apareçam. Segundo Naílson Nascimento, aquele nosso personagem do início da matéria, quem trabalha tem menos vantagem que quem só estuda. “Havia garotos que estudavam os três turnos”, completa.

Outro método muito utilizado por alguns “concurseiros” são as aulas particulares. As pessoas mais ocupadas geralmente recorrem a amigos ou professores que fazem um extra em final de semana para dar uma intensificada em matérias de maior dificuldade. A maioria dos professores cobra, em média, R$ 30 por hora, dependendo do programa a ser estudado. Para os que querem ter aula em domicílio, esse valor pode aumentar até 20% do valor inicial, sem falar em custos de locomoção. Se existe a vantagem de estudar em casa, com conforto e ter um professor do lado para tirar as dúvidas, por outro lado existe a desvantagem de que, dificilmente, o professor terá um conhecimento a mais que a matemática ou o português. Para Leandro Soares, professor de cursinho, essa prática pode render melhores resultados. “Estudando com o professor particular, as dúvidas podem ser tiradas de forma mais aprofundada e específica do aluno, enquanto no cursinho é para os alunos no geral”, argumenta.

As bancas de revista também estão ligadas aos concurseiros. O jornal de concursos é uma das publicações do gênero mais procuradas no bairro de Cavaleiro, onde, em média, todos os dias são vendidos mais de 10 exemplares, dependendo sempre das novidades anunciadas dos editais de concursos. Certa vez, foram vendidos 100 exemplares quando foi anunciado concursos para o Estaleiro de Suape. Na época só havia 25 exemplares disponíveis na banca e o proprietário teve que providenciar outros com o fornecedor.

Se é na banca de revista que um “concurseiro” começa a traçar seu plano rumo a estabilidade, através dos vários jornais específicos na área de concursos públicos, é nelas que também podem encontrar o material que o ajudará a estudar, caso não tenha tempo, devido ao trabalho. O método de estudar sozinho está em se basear em diversos livros, chamados popularmente de apostilas, que são encontradas em várias bancas. Cada caderno vem com todo o conteúdo do programa do concurso. É claro que o resultado só pode ser conseguido se o aluno for aplicado quando decidir estudar por conta própria. Definir horários, estabelecer metas, ler cuidadosamente, fazendo isso, a aprovação está a meio caminho.

As apostilas são encontradas em variados preços e espessuras, porém, é preciso atentar para possíveis erros de impressão, como revela Alexandre Lima, de 21 anos, recém aprovado no concurso de Polícia Militar de Pernambuco. “Eu desisti deste tipo de material porque eu ia fazer um concurso para a Polícia Federal, meu pai comprou uma apostila dessas de banca e ela veio cheia de falhas”, afirma.

Além de todos os métodos descritos anteriormente, o interessado numa vaga no serviço público ainda dispõe da infinidade de recursos da Internet. Na rede, é possível encontrar sites com conteúdo, vendas de apostilas e até downloads de provas anteriores de vários concursos, tanto do estado do candidato, como de outros estados do país. A busca pela estabilidade encontra várias formas e cabe ao concorrente a que lhe for mais viável, tanto financeira, como na disposição do tempo para estudar os conteúdos propostos. No mais, é se dedicar e comemorar quando o objetivo for alcançado.

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