ANOS 2000: A TV MAIS FELIZ DO BRASIL
O que parecia estar bem seguro, depois de duas décadas, escapou das mãos do SBT em sua terceira década de existência: O título se segunda tevê do Brasil. Com o fim da Rede Manchete e a expansão da Record, a emissora paulista ganhou uma concorrente que partiu, com tudo, para cima do posto de vice-líder de audiência. A mais tumultuada década do SBT começou com resquícios da, bem sucedida, década de 90. Os números em alta, programas de qualidade, ao mesmo tempo, contrastando com perdas importantes. Na vida de Sílvio Santos dois fatos importantes: A homenagem da Escola de Samba Tradição na Marquês da Sapucaí, em 2001, e o sequestro da sua filha Patrícia, no mesmo ano.

Numa reestruturação de sua linha de shows, a Rede Globo contratou de uma só vez, cinco apresentadores, dos quais, dois eram do SBT: Jô Soares e Serginho Groisman. Com a perda, Sílvio Santos tratou de cobrir o rombo, investindo em novos projetos. Com sua apresentação, estrearam “Casa dos Artistas” e “Show do Milhão”. No primeiro, artistas ficavam reclusos numa casa por várias semanas. O formato é exatamente o mesmo do programa “Big Brother”, o qual, a Rede Globo tinha os direitos de produção adquiridos. Os Marinho foram à luta e, por meio da justiça, tiraram o programa do ar por um domingo. Participaram da primeira edição nomes como: Alexandre frota, Mateus Carrieri, Supla, entre outros. O prêmio ficou com a desconhecida atriz Bárbara Paz. O sucesso do show foi gigantesco, vencendo, várias vezes, o “Fantástico”. Outras duas temporadas vieram em seguida, só que, com o pouco tempo entre as edições, o público dispersou e a atração caiu no ostracismo, sendo tirada do ar.
A partir de vendas de uma revista, chamada “SBT”, pessoas enviaram cupons para participar de um novo programa. A chamada causava curiosidade. A nova atração teve, a princípio, 22 programas. Começou a saga do “Jogo do Milhão”. Um programa de perguntas e respostas, onde os participantes respondiam perguntas que valiam de R$ 1 à R$ 1 milhão. As revistas vendiam, a audiência aumentava e outras temporadas vieram em seguida. O programa mudou de nome, porém, com o passar do tempo, a novidade esfriou e o “Show do Milhão” saiu do ar.

Num determinado momento, Sílvio Santos diminuiu sua presença nos domingos. Com os programas “Show do Milhão”, “Sete e Meio”, “Topa ou não Topa” exibidos durante a semana, o domingo ficou restrito ao sucesso de Gugu e outros quadros. Isso se reverteu por volta de 2007, quando Sílvio retornou com o seu programa dominical. O “Topa Tudo por Dinheiro” passou a se chamar “Programa Sílvio Santos” e segue no ar, atualmente, mantendo a melhor audiência do SBT.

Gugu estava forte, era o principal nome do SBT, seu salário era um dos mais altos. O sensacionalismo tomou conta do programa “Domingo Legal”, era preciso chamar a atenção e, eis que chega o dia 7 de setembro de 2003. Durante toda a exibição, Gugu convidou todos a assistirem a entrevista, exclusiva, de membros do Primeiro Comendo da Capital (PCC). Por volta das 19hs daquele fatídico dia, dois homens encapuzados falaram dos ataques que São Paulo viveu, na época, e as rebeliões nos presídios paulistas. O ponto alto foram às ameaças aos apresentadores José Luiz Datena, Marcelo Rezende e Roberto Godoy, todos apresentadores de programas policiais. A audiência foi excepcional, porém, a surpresa viria no dia seguinte. Em seu programa “Repórter Cidadão”, na Rede Tv!, Marcelo Rezende afirmou com todas as letras: “É uma farsa!”. Durante mais de uma hora, Rezende detalhou erros na entrevista, inclusive de iluminação, vocabulário dos “supostos” bandidos, entre outros pontos. A casa caiu! Por ordem da justiça, como punição, o “Domingo Legal” ficou uma semana fora do ar.

Na segunda-feira seguinte, Gugu foi ao programa de Hebe Camargo e se desculpou, dizendo não saber que a reportagem era falsa. Com o episódio, a credibilidade do programa foi abalada e a audiência recuou de forma assustadora. Com isso, Liberato suou para recuperar os índices. No fim de 2008, encontrou a fórmula, o assistencialismo. Levar pessoas pobres de volta para suas raízes e construir casas ficou comum e elevou a audiência. Em 2009, a convite da Record, que lhe ofereceu R$ 3 milhões mensais e um contrato de oito anos, Gugu deixou o SBT.


A linha de shows ficou aquecida. Para substituir Serginho Groisman, SBT contratou Babi, vinda da MTV, que ficou no “Programa Livre”. Sônia Abrão chegou em 2002 e apresentou, até 2004, o “Falando Francamente”. Márcia, Otávio Mesquita, Christina Rocha apresentaram o “Fantasia”, em nova fase. Celso Portiolli também integrou o elenco. Além disso, Celso apresentou vários programas até chegar ao comando do “Domingo Legal”, substituindo Gugu, em 2009. Por um salário de R$ 500 mil, Adriane Galisteu chegou ao SBT para apresentar o “Charme”. Inicialmente exibido nas tardes, passou pela noite, madrugada, foi exibido diariamente, depois semanalmente. No programa, ela foi de entrevistadora à atendente de telefone, nos concursos para alavancar audiência. Nada adiantou. Ao fim do contrato ela se mandou, arrependida, para a Band.




Ratinho ficou perdido durante boa parte da década. Por causa de um projeto, feito pelo governo federal, contra a “baixaria” na televisão, o programa saiu do ar. Foram várias as tentativas, e horários para firmar, novamente, o nome do apresentador. Ratinho voltou ao ar, em 2009, com programa diário e com o tempo, retornou ao seu horário de origem, por volta das 21hs, onde permanece atualmente. Com Hebe, Galisteu, Jorge Kajuru e Cacá Rosset, estreou, em 2005, o programa “Fora do Ar”, onde os quatro debatiam assuntos dos noticiários. Ficou na grade por pouco tempo. Falando em Kajuru, ele foi contratado para reativar a linha esportiva do canal. Ganhou um programa aos domingos, porém, terminou logo, devido aos constantes problemas com a justiça, devido à sua“boca solta”.

Hebe também passou por maus bocados nos anos 2000. A partir de 2005, os horários ficaram inconstantes. Nada parava no mesmo lugar por mais de duas semanas. Nessa brincadeira, Hebe passou por várias faixas de horário e também dias na semana. Em 2008, foi exibido nos sábados. Além disso, o tempo de produto foi reduzido, chegando a ter menos de uma hora no ar. Hebe também reclamava sobre o descaso com seus contratos e, em 2010, numa gravação de fim de ano, anunciou a saída da emissora, após quase 25 anos. Voltando ao formato de programas com conflitos familiares, o SBT estreou o “Casos de Família”. Apresentado por Regina Volpato, depois, por Christina Rocha, o programa é vice líder de audiência atualmente.


No jornalismo, a instabilidade também foi problema. Ora se contratava, ora se demitia. Até 2005, não existia um telejornal de força no ar. Houve tentativas frustradas e fórmulas esquisitas. No início dos anos 2000, Analice Nicolau e Cinthia Benini apresentaram o “Jornal do Sbt”. Ao contrário das notícias, as pernas é quem chamavam a atenção do telespectador. Roupas justas, muita cena e quase nenhuma credibilidade. Hermano Henning segurou as pontas com a edição no fim de noite. Isso até a contratação de Ana Paula Padrão, em 2005. Com uma proposta diferente, entrou no ar o “Sbt Brasil”. Estética inovadora e o peso de uma grande jornalista, fizeram o sucesso do jornal. No ano seguinte, Ana deixou a bancada e foi produzir o “Sbt Realidade”, que estreou em 2007, em seu lugar ficou Carlos Nascimento.



O jornalismo voltou com força, mas a emissora já não era a mesma. A Record avançou e o SBT perdeu público. Atualmente, o principal jornal passou por reformulação. Nascimento foi para o fim de noite, junto com Cinthia Benini, Hermano Henning ficou no início da manhã, com Analice Nicolau e no “Sbt Brasil”, entraram Joseval Peixoto e Rachel Sheherazade, ela, vinda da Paraíba, fruto do sucesso de seu vídeo no Youtube, onde criticou o carnaval brasileiro, em fevereiro de 2011.

O popular “Aqui Agora” voltou em 2009, desta vez, com quatro apresentadores. Mas, como não rendeu o esperado pela emissora, acabou saindo do ar em poucos meses.

Se algum público perdeu espaço nos anos 2000, este foi o infantil. Dos inúmeros programas infantis dos anos 90, o SBT só manteve três. O “Bom dia e Cia”, em 2002, passou a ser apresentado por dois adolescentes. Primeiro Jéssica e Cauê, depois, Priscilla e Yudi. Mesmo assim manteve um público fiel. “Sábado Animado” seguiu a linha de exibição de desenhos, o sucesso, porém, chegou com a menina Maísa. A garotinha encantou o público e elevou a audiência da emissora.


A linha infantil também teve Carla Perez, apresentando o “Fantasia” e o “Canta e Dança”. Em parceira com o empresário Beto Carreiro, o SBT produziu o programa humorístico “Dedé e o Comando Maluco”, tendo o ex-trapalhão Dedé Santana como astro. Em 2011, sob a direção de Silvia Abravanel, filha de Sílvio, a linha infantil voltou a ter palhaços na sua grade. Estreiaram Patatí e Patatá, no comando do “Carrossel Animado”.



No humor, o “A Praça é Nossa” mudou de dia, sendo exibido nas quintas-feiras, por volta das 23hs. O humorístico perdeu vários nomes de sucesso, mas também lançou outros. Entre os que foram, destaque para Ronald Golias. Nos últimos anos, ele estrelou o programa “Meu Cunhado”, junto com Moacyr Franco e elevou a audiência. Outro nome de peso do humor, a passar pelo SBT, foi Dercy Gonçalves. Ela apresentou o “Fala Dercy”, onde encenava teleteatros recheados de cenas hilárias, Dercy assinou um contrato vitalício e trabalhou em outras produções, praticamente, até sua morte, em 2008.


Uns foram, outros chegaram (ou voltaram). Tentando um material parecido com o “Hoje em dia”, sucesso da Record, o SBT lança o “Olha você”. No elenco, Claudete Troiano, Ellen Jabour, entre outros. Os índices não subiram e atração saiu do ar. Com a saída de Gugu, chegaram Roberto Justus, Richard Rasmussen, Roberto Cabrini e Eliana, os dois últimos, na realidade, voltaram. Justus comandou dois games shows, mas, como a audiência não respondeu, saiu da emissora antes do fim do contrato, em comum acordo. Cabrini voltou com seu jornalístico, assim como Richard levou seu mundo animal. Já Eliana assumiu o lugar de Gugu, no domingo.



Na dramaturgia, a década foi de novidades. Num contrato firmado com a Televisa, do México, o SBT passou a produzir, com elenco brasileiro, os folhetins mexicanos. Dessa safra saíram: “Pícara Sonhadora”, “Amor e Ódio”, “Marisol”, “Canavial de Paixões”, “Pequena Travessa”, “Maria Esperança”, “Cristal”, “Amigas e Rivais”, “Os Ricos também Choram”, “Jamais te Esquecerei”, “Seus Olhos”, entre outras.

Em 2008, a esposa de Sílvio Santos, Íris Abravanel, passou a escrever novelas. Dela, foram produzidas: “Revelação”, “Vende-se um Véu de Noiva” (Adaptada da obra de Janete Clair) e “Corações Feridos”, esta última já está totalmente gravada e deve entrar no ar em novembro. Nesta nova fase também foi contratado Tiago Santiago. Autor de vários sucessos na Record, ele foi chamado para alavancar a audiência das novelas do SBT. A primeira foi “Uma Rosa com Amor”, adaptada da obra de Vicente Sesso e “Amor e Revolução”. Nesta última, fruto de boas expectativas, acabou não cumprindo a missão dada, devido às fortes cenas de violência e homoeróticas. A cena mais polêmica foi o beijo entre as atrizes Luciana vendramini e Giselle Tigre, considerado o primeiro beijo gay da telenovela brasileira. Um dos próximos destaques e a versão brasileira da novela “Carrossel”, prevista para estrear em 2012.


Se as produções brasileiras se prenderam aos textos mexicanos, o número de versões dubladas foi bem menor que em décadas passadas, talvez pelo fato do contrato com a Televisa ter acabado e não ter sido renovado. A maioria das telenovelas mexicanas exibidas, nesse período, foram infantis, como: “Luz Clarita”, “O Diário de Daniela”, "Carinha de Anjo” e “Cúmplices de um Resgate”. Destaque também para “Rebelde”, que elevou a audiência do canal e fez a popularidade do grupo da novela, RBD, subir, com visita dos atores aos programas do SBT. A mais recente exibida foi “Camaleões”, encurtada por ordem do Ministério Público, que a achou imprópria para o horário em que foi transmitida, 16hs.


Outro destaque na dramaturgia foi a reexibição de clássicos da Rede Manchete. Em 2006, o SBT apresentou “Xica da Silva”. As produções foram compradas à produtora da família Bloch e exibidas integralmente, na época, se falava da má qualidade das imagens, que não passaram por uma edição minuciosa. Em seguida, vieram: “Dona Beija”, " A História de Ana Raio e Zé Trovão” e “Pantanal”. Esta última, foi alvo de disputa judicial. As fitas foram arrematadas em leilão, promovido para levantar dinheiro e pagar as dividas trabalhistas dos ex-funcionários da Tv Manchete. A Globo se dizia dona dos direitos do folhetim, comprados ao próprio autor, Benedito Ruy Barbosa e pediu que se tirasse a trama do ar. O Fato é que, a novela terminou, novamente foi sucesso e nada aconteceu ao SBT.


O Realitys Shows tomaram conta do SBT. Dos mais variados segmentos: para arrumar casamento, namoro, para cuidar de crianças, para perder peso, para ficar sozinho. A fórmula mundial, copiada no Brasil não só pelo SBT, mas também pelas concorrentes, fazem a festa dos mais variados públicos. Programas como: “Supernany”, “Ídolos”, “Popstar”, “Esquadrão da Moda”, “S.O.S Casamento”, “Solitários”,e mais alguns renderam números satisfatórios.


Entre as perdas, uma foi especial para Sílvio Santos. O seu fiel locutor Luiz Lombardi Neto, o Lombardi, morreu aos 69 anos, em dezembro de 2009. Foram 34 anos trabalhando juntos, passando por várias emissoras.

Um rombo no Banco Pan Americano, de propriedade de Sílvio Santos, causou uma crise nas empresas do apresentador. Depois de vendido o banco, o Baú também foi passado “pra frente”. Nessa reestruturação, ficou decidido que o SBT, agora como a principal empresa do grupo, receberia investimentos e assim, recuperar o posto de vice líder do Brasil. Essa missão está nas mãos de Daniela Beyruti, filha de Sílvio, e atual diretora artística do SBT.

O desafio está lançado. Tem mais trinta anos pela frente!
Fonte: A Fantástica História de Sílvio Santos
Fotos: reproduções de tv, sites de televisão
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