OPINIÃO: CADÊ AQUELE “M” VOADOR - REDE MANCHETE 30 ANOS

  Se tem algo que me traz tanta nostalgia quanto as brincadeiras de criança, é a lembrança das vezes que sentei no sofá, todas as tardes, em frente à TV para assistir meus heróis japoneses preferidos. A lembrança não é só minha! Qualquer um que tenha pouco menos de 30 anos vai recordar destes momentos. E não só os meninos, existiam heróis pra todos os gostos: Jaspion, Jiraya, Jiban, Changeman, Patrine, putz! Foram muitos. As tardes mais gostosas de minha infância. Quem nos proporcionou isto: A “finada” Rede Manchete de Televisão, que se estivesse viva, completaria, neste exato momento, 30 anos de existência.
 
 
   Cria de um dos maiores conglomerados de comunicação do país, a Bloch Editores, do ucraniano mais brasileiro de todos os tempos, Adolpho Bloch, a emissora entrou no ar no dia 5 de junho de 1983, às 19h. Com a promessa de ser uma TV de primeira linha, recebeu investimentos milionários para que tivesse conteúdo da maior qualidade, equipamentos de última geração e instalações impecáveis. Por ironia, a dívida que a fez nascer foi à mesma que a matou. Seu Adolpho era um homem de visão, acreditava no país, fazia dívidas visando pagá-las com o lucro, que nem sempre veio na mesma proporção, mas nunca deixou de lado seu objetivo, desenvolver o país.
   Segundo o sobrinho de Adolpho, Arnaldo Bloch, em seu fantástico livro “Os Irmãos Karamabloch”, a Rede Manchete surgiu num momento em que finalmente, após 30 anos da fundação da Bloch Editores, as contas de Adolpho estavam no azul: Era um empresário ávido por quitar seus débitos (principalmente se estes fossem para o bem dos seus milhares de funcionários). A TV era um desafio naquele momento, consolidaria o Grupo, mas também o surpreenderia pelo alto custo para a sua implantação.
   Bloch era o segundo vencedor de uma disputa por nove canais (pertencentes as TVs Tupi e Excelsior – que faliram em 1980 e 1970, respectivamente) – o primeiro foi Sílvio Santos, ganhador de quatro concessões que deram origem ao SBT. Ambas emissoras tinham apenas dois anos para serem colocadas no ar, enquanto Sílvio correu para uma solução caseira (aluguel de estúdios e equipamentos das emissoras falidas), Adolpho seguiu pelo caminho mais perigoso (e mais tarde, desastroso), adquirindo tudo que havia de mais moderno em tecnologia. Equipamentos vindos até do exterior.
 
   Meu saudosismo passa pelas coberturas do carnaval, os programas infantis, que nos apresentaram Xuxa e Angélica, as grandes transmissões de esporte e as novelas. Ahhh, as novelas! Lembro da primeira que vi, “Dona Beija”, com Maitê Proença. Como me revoltei, ainda garoto, ao ver uma cena em que a personagem é surrada no meio de uma floresta, a famosa cena do banho de cachoeira... E peladona no cavalo, então: SAUDADES. Fui crescendo e a paixão pela emissora só aumentou. “Kananga do Japão”, “Pantanal”, o fenômeno inesperado, “Ana Raio e Zé Trovão”, que só depois de velho descobri que foi uma novela itinerante que rodou o país e, praticamente, jogou a Manchete no buraco, devido aos imensos investimentos e o pouco retorno.
   A emissora foi mudando na década de 90, eram programas chatos de vendas de produtos importados, os heróis sumiram e chegamos à era do famigerado tele 900. Tudo era motivo para uma ligação 0900. Depois de muito ler, descobrir que este era o período negro da minha querida TV. Tentaram vender, mas as dívidas já estavam gigantes e ninguém queria assumir, então o jeito foi tocar pra frente, e seu Adolpho, com a mesma positividade, tocou até 1995, quando acabou falecendo. Seu sobrinho, Pedro Jack Kapeller assumiu a direção, mas a barca já estava muito furada e afundar era uma questão de tempo.
   A programação deu a respirada, na metade dos anos 90 encorpou a programação, veio gente boa: Raul Gil, Sula Miranda, Sandy & Júnior. As novelas ganharam destaque, mas eram os últimos suspiros: “Tocaia Grande”, “Xica da Silva”, “Mandacaru”. Os rostos conhecidos começaram a sumir, as novelas passaram a apelar, a programação se tornou cada vez mais comercial, alugada a “gatos e cachorros” e a qualidade foi se dizimando. A estrela estava se apagando e meus olhos leigos percebiam que algo errado acontecia, contudo, segui firme e forte, acompanhando um ou outro programa.
 
   Recordo-me da festa para o lançamento da novela “Brida”. Atores famosos, gravações na Irlanda, imagens de tirar o fôlego, era o apogeu? Não, uma falsa ilusão. Internamente, a novela já teve início com pé no fracasso, devido aos problemas internos. A Manchete estava capengando. Com o tempo, os desenhos se repetiam, “Brida” acaba de uma hora pra outra, sendo substituída por “Pantanal” que, já desgastada, pouco pode fazer para alavancar a audiência, enquanto seus executivos brigavam para conseguir passar o canal pra frente.
   O ano é 1999, não havia mais absolutamente nada o que fazer. Nem programa próprio, nem filme de qualidade, nem desenho inédito. Uma programação toda arrendada que de novo (e ainda com qualidade) só tinha o jornalismo. O dia é 17 de maio, quase não há mais menção ao nome Manchete, a reprise de “Pantanal” termina e a emissora muda de fase. Em apenas dois segundos, Rede Manchete se torna “Rede Tv!”. E aquele M voador da vinheta de abertura e encerramento da programação diária voou, mas, como de costume, não terminou a viagem estacionando no alto do prédio da Rua do Russel, no Rio de Janeiro, simplesmente foi embora com o tempo. Tempo este que já dura exatamente 14 anos.
   Queria humildemente agradecer a Fundação Padre Anchieta (Gerente da TV Cultura) pela decisão de recuperar o acervo da emissora (O que levou cerca de quatro anos), distribuído em 4.600 fitas de vídeo, contendo cerca de 220 mil horas de gravações, embora digitalizar seja um pouco mais difícil (Estima-se que custe algo em torno de R$ 8 milhões), acredito que um dia esta memória será expostas para a nova juventude.
Não adiantaria escrever tudo que todos já escreveram, gente até mais competente que eu. Portanto, eis minha singela homenagem ao muito que vi e usufrui desta bela história. A Rede Manchete segue viva nos “Youtubes da Vida” e nas lembranças de todos que a assistiram.
 
REDE MANCHETE DE TELEVISÃO – VOCÊ EM PRIMEIRO LUGAR.
 
Fotos: Reprodução
Vídeos: Extraídos do “You Tube”

Comentários

  1. Muito boa a lembrança da extinta Tv Manchete.Foi um marco na minha infância através de programas inesquecíveis Parabéns!!

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  2. Mas onde ou para onde está escrito M da rede manchete alguém

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