OPINIÃO: A FORÇA DA INJUSTIÇA

   Como uma pessoa que acompanha futebol desde a infância, confesso que não me impressionei com a injustiça da qual tem sido vítima Luis Felipe Scolari. Na modalidade, sempre foi assim: Você pode conseguir 10 títulos, se você perder 1, por menos importante que possa ser, seu nome será lançado no livro de inimigos mortais de torcedores em todo o país.

   Felipão tem sentido isto na pele desde a última terça-feira (8), quando a Seleção Brasileira sofreu sua pior derrota em 100 anos de história. O placar de 7 a 1 em pleno mundial realizado no Brasil não desceu e nem deve ser engolido tão cedo pelos aficionados daquele “Futebol arte” que o mundo aprendeu a respeitar. Quando parecia que a redenção viria, na partida seguinte ao vexame, a Holanda quase cravou mais uma goleada: 3 a 0.

   Ora, será que o treinador brasileiro deveria ter sido tão achincalhado como foi, tanto por torcedores como pela própria mídia? E tudo o que ele já havia feito pela Seleção não conta? A raiva do torcedor é compreensível, afinal, quem não gostaria de ser campeão em casa? Contudo, não se pode esquecer a história vitoriosa de Felipão. Se não fosse ele, talvez estivéssemos ainda em busca do penta campeonato, 20 anos após o tetra.

   Se servir de consolo, vencemos a Copa das Confederações de 2013. Ainda que não tenha uma força de uma Copa do Mundo (E realmente não tem), a competição também contou com grandes seleções. Não se sabe o que aconteceu com a equipe em um ano, já que o elenco foi praticamente o mesmo do evento teste. Houve menos tempo de treino do que pedia um mundial? Faltou um meio campo eficiente? Deveriam ter feito alguma coisa com urgência no momento que a Alemanha cresceu na fatídica semifinal? É evidente que sim. Então, que o culpemos por estes deslizes e só por estes deslizes.

   A mesma mídia que o exaltou na vitória do mundial de 2002 e da Copa das Confederações, fez a caveira de Felipão entre os dias após o jogo contra a Alemanha e o anúncio oficial do seu desligamento, no último domingo. Do outro lado, existiram alguns torcedores que foram bem mais compreensíveis, poucos em relação aos que o condenaram. A gente sabe que brasileiro tem memória curta, mas desta vez extrapolaram. Que mude o treinador, que a seleção se renove e que a CBF crie uma nova identidade, mas, sobretudo, que aprendamos de uma vez por todas a considerar o passado de quem quer que seja e saibamos respeitar os erros, por pior que eles sejam.

   É quase certo que Felipão não volte mais a dirigir o Brasil, e os mais ingratos torcem por isso, então, que celebremos o que ele trouxe de bom, respeitemos seu lado profissional e o perdoemos pelo fracasso da Seleção em 2014. Apesar de ele ter se colocado como principal culpado, sabemos que não há um único responsável nesta triste história. Há uma engrenagem bem mais complexa e sombria por trás de Luis Felipe Scolari.

Fotos: Montagem / G News Blog

Comentários